domingo, 7 de julho de 2013

A HERMENÊUTICA DE DILTHEY.

                    
                         Wilhelm Dilthey


Wilhelm Dilthey nasceu na Alemanha, em  1833, e morreu na Áustria, em 1911. Em 1883, sua obra, Introdução ao Estudo das Ciências Humanas, delineou as especificidades de método para estas ciências. A obra causou polêmica nos meios científicos e filosóficos onde predominava a visão positivista que defendia o uso das metodologias das Ciências Naturais para a compreensão do espírito humano.

Dilthey fez parte do chamado romantismo alemão e foi influenciado pelos trabalhos de Friedrich Schleiermacher. De acordo com a escola romântica, a interpretação hermenêutica de textos escritos ocorre quando o intérprete é capaz de penetrar e compreender o contexto histórico e cultural da obra, partindo de sua consciência de também estar situado dentro de um contexto de vida próprio.

Considerações iniciais

Dilthey reconhece uma natureza distintiva das ciências humanas, afirmando que seu campo de estudo é formado por atores humanos conscientes e não por organismos ou objetos apenas sujeitos às leis de causa e efeito. Por isso, Dilthey formula, para as Ciências Humanas, uma metodologia própria, com base empírica. que ele chama de Compreensão (Verstehen) e que influenciou as teorias hermenêuticas de Heidegger e Gadamer.  Em seu ensaio escrito em 1910, Dilthey define hermenêutica como sendo um conjunto de regras para interpretar obras escritas e afirma que o propósito desta ciência, além de estabelecer interpretações filológicas, é servir de anteparo contra a subjetividade cética e os caprichos românticos para consolidar a validade universal da interpretação histórica e fundamentar as Ciências Humanas. Para ele, as manifestações da vida têm regras permanentes que nos servem de guia para a interpretação. A exegese dos registros escritos, por meio da hermenêutica, é o ponto mais alto desta interpretação. Assim, a tarefa hermenêutica é demonstrar que é possível conhecer o nexo do mundo histórico e encontrar o meio de fazer isto.

Embora Dilthey ainda relacione a hermenêutica ao texto escrito, pode-se dizer que a esta ciência, sob sua ótica, é vista como o modelo para todas as formas de compreensão da vida da mente e do espírito. Seria, então, o modo particular de cognição que fundamenta metodologicamente as ciências humanas.

A Tradição Hermenêutica

Dilthey identificou 4 ideias cruciais na obra de Schleiermacher para o desenvolvimento da hermenêutica.

1) A análise da compreensão é o fundamento para a codificação da interpretação;

2)O interprete e o autor compartilham uma “natureza humana geral” que permite a compreensão dos outros;

3)Por causa desta “natureza humana compartilhada”, o intérprete pode recriar as ideias do autor; e

4)O interprete pode compreender o significado inteiro do texto a partir das palavras.

Explicação e Compreensão

Com a diferenciação de dois modos de cognição, Dilthey justifica, filosoficamente, uma metodologia para as Ciências Humanas e outra para as Ciências Naturais. O modo para as Ciências Humanas é a Compreensão (Verstehen); o modo para as Ciências Naturais é a Explicação (Erklären). Por métodos distintos, ambas as ciências produzem proposições válidas universalmente. A Compreensão ocorre quando o intérprete é capaz de reconhecer o estado interior de outra pessoa através das expressões empíricas desta outra pessoa. Ao ver uma expressão facial, por exemplo, o intérprete tem acesso ao estado emocional interior de alguém. As palavras de um texto são, também, manifestações empíricas do sentido intencionado pelo autor.

Compreender os outros

Wilhelm Dilthey considera que há regularidade e estrutura daquilo que consideramos universalmente humano. Podemos conhecer tal estrutura por meio das manifestações de vida que se dão de três formas:

Conceitos, juízos e formações de pensamentos maiores: afirmam a forma pela qual as coisas estão no mundo. São frases que sempre têm o mesmo significado, independentemente do ouvinte, como, por exemplo: “Chove lá fora”, “O carro passou na rua” e também as elaborações mais complexas das explicações científicas.

Ações: em si mesmas não comunicam, apenas indicam uma relação com um propósito.
Expressões da experiência vivida: manifestações empíricas conectadas com a memória ou com o estado psíquico interior do autor de uma tal expressão, cabendo ao intérprete desvendar o teor e o grau desta conexão.  

Para compreender uma outra pessoa por meio de suas manifestações de vida, Dilthey sugere os métodos da transposição e da recriação. A transposição procura as relações entre as expressões empíricas manifestadas pelo autor e os estados psíquicos interiores deste. O intérprete busca uma espécie de identificação com o autor ao tentar descobrir o caráter relacional que existe em sua própria experiência e que o leve a se ver na posição do outro. A recriação ou reexperiência é o inverso do processo criativo. Inicia-se a busca pela interioridade psíquica de um autor por meio de sua obra, expressão empírica de sua experiência vivida. A apresentação do meio é fundamental para que se compreenda o tipo histórico e cultural da experiência vivida. O intérprete também deve levar em conta suas próprias características humanas ao recriar a vida psíquica de outra pessoa. Assim,  atitudes, poderes, sentimentos, esforços, tendências e pensamentos próprios do intérprete podem ser aumentados ou diminuídos, por meio da imaginação, para que se experimente um estado interior que jamais foi vivido de fato pelo intérprete.  A tese de Dilthey baseia-se no pressuposto de que o espírito objetivo possui uma ordem articulada em termos de tipos humanos. O ponto crucial da tese é a afirmação das conexões existentes entre as experiências de vida e suas expressões empíricas, aprendidas quando uma criança adquire cultura. Estas conexões permitem que compreendamos uns aos outros. Sem elas, não haveria possibilidade de comunicação entre os seres humanos. É por meio da Hermenêutica que podemos compreender as regras permanentes de manifestação da vida presentes na linguagem, considerada a expressão mais completa da mente ou espírito humano.




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