Wilhelm
Dilthey
Wilhelm
Dilthey nasceu na Alemanha, em 1833, e
morreu na Áustria, em 1911. Em 1883, sua obra, Introdução ao Estudo das Ciências Humanas, delineou as
especificidades de método para estas ciências. A obra causou polêmica nos meios
científicos e filosóficos onde predominava a visão positivista que defendia o
uso das metodologias das Ciências Naturais para a compreensão do espírito
humano.
Dilthey fez
parte do chamado romantismo alemão e foi influenciado pelos trabalhos de
Friedrich Schleiermacher. De acordo com a escola romântica, a interpretação
hermenêutica de textos escritos ocorre quando o intérprete é capaz de penetrar
e compreender o contexto histórico e cultural da obra, partindo de sua
consciência de também estar situado dentro de um contexto de vida próprio.
Considerações iniciais
Dilthey reconhece uma natureza distintiva das ciências
humanas, afirmando que seu campo de estudo é formado por atores humanos
conscientes e não por organismos ou objetos apenas sujeitos às leis de causa e
efeito. Por isso, Dilthey formula, para as Ciências Humanas, uma metodologia
própria, com base empírica. que ele chama de Compreensão (Verstehen) e que influenciou as teorias hermenêuticas de Heidegger
e Gadamer. Em seu ensaio escrito em
1910, Dilthey define hermenêutica como sendo um conjunto de regras para
interpretar obras escritas e afirma que o propósito desta ciência, além de
estabelecer interpretações filológicas, é servir de anteparo contra a
subjetividade cética e os caprichos românticos para consolidar a validade
universal da interpretação histórica e fundamentar as Ciências Humanas. Para
ele, as manifestações da vida têm regras permanentes que nos servem de guia
para a interpretação. A exegese dos registros escritos, por meio da
hermenêutica, é o ponto mais alto desta interpretação. Assim, a tarefa
hermenêutica é demonstrar que é possível conhecer o nexo do mundo histórico e
encontrar o meio de fazer isto.
Embora Dilthey ainda relacione a hermenêutica ao texto
escrito, pode-se dizer que a esta ciência, sob sua ótica, é vista como o modelo
para todas as formas de compreensão da vida da mente e do espírito. Seria, então,
o modo particular de cognição que fundamenta metodologicamente as ciências
humanas.
A Tradição Hermenêutica
Dilthey identificou
4 ideias cruciais na obra de Schleiermacher para o desenvolvimento da
hermenêutica.
1) A análise da compreensão é o fundamento para
a codificação da interpretação;
2)O interprete e o autor compartilham uma “natureza humana geral” que permite a
compreensão dos outros;
3)Por causa desta “natureza humana
compartilhada”, o intérprete pode recriar as ideias do autor; e
4)O interprete pode compreender o significado
inteiro do texto a partir das palavras.
Explicação e Compreensão
Com a diferenciação de dois modos de cognição, Dilthey
justifica, filosoficamente, uma metodologia para as Ciências Humanas e outra
para as Ciências Naturais. O modo para as Ciências Humanas é a Compreensão (Verstehen); o modo para as Ciências
Naturais é a Explicação (Erklären).
Por métodos distintos, ambas as ciências produzem proposições válidas
universalmente. A Compreensão ocorre quando o intérprete é capaz de reconhecer
o estado interior de outra pessoa através das expressões empíricas desta outra
pessoa. Ao ver uma expressão facial, por exemplo, o intérprete tem acesso ao
estado emocional interior de alguém. As palavras de um texto são, também,
manifestações empíricas do sentido intencionado pelo autor.
Compreender os outros
Wilhelm Dilthey considera que há regularidade e estrutura
daquilo que consideramos universalmente humano. Podemos conhecer tal estrutura
por meio das manifestações de vida que se dão de três formas:
Conceitos, juízos e
formações de pensamentos maiores: afirmam a forma pela qual as coisas estão no
mundo. São frases que sempre têm o mesmo significado, independentemente do
ouvinte, como, por exemplo: “Chove lá fora”, “O carro passou na rua” e também
as elaborações mais complexas das explicações científicas.
Ações: em si
mesmas não comunicam, apenas indicam uma relação com um propósito.
Expressões da
experiência vivida: manifestações empíricas conectadas com a memória ou com o
estado psíquico interior do autor de uma tal expressão, cabendo ao intérprete desvendar
o teor e o grau desta conexão.
Para
compreender uma outra pessoa por meio de suas manifestações de vida, Dilthey
sugere os métodos da transposição e
da recriação. A transposição procura
as relações entre as expressões empíricas manifestadas pelo autor e os estados
psíquicos interiores deste. O intérprete busca uma espécie de identificação com
o autor ao tentar descobrir o caráter relacional que existe em sua própria
experiência e que o leve a se ver na posição do outro. A recriação ou
reexperiência é o inverso do processo criativo. Inicia-se a busca pela
interioridade psíquica de um autor por meio de sua obra, expressão empírica de
sua experiência vivida. A apresentação do meio é fundamental para que se
compreenda o tipo histórico e cultural da experiência vivida. O intérprete
também deve levar em conta suas próprias características humanas ao recriar a
vida psíquica de outra pessoa. Assim, atitudes,
poderes, sentimentos, esforços, tendências e pensamentos próprios do intérprete
podem ser aumentados ou diminuídos, por meio da imaginação, para que se
experimente um estado interior que jamais foi vivido de fato pelo intérprete. A tese de Dilthey baseia-se no pressuposto de
que o espírito objetivo possui uma ordem articulada em termos de tipos humanos.
O ponto crucial da tese é a afirmação das conexões existentes entre as
experiências de vida e suas expressões empíricas, aprendidas quando uma criança
adquire cultura. Estas conexões permitem que compreendamos uns aos outros. Sem
elas, não haveria possibilidade de comunicação entre os seres humanos. É por
meio da Hermenêutica que podemos compreender as regras permanentes de
manifestação da vida presentes na linguagem, considerada a expressão mais
completa da mente ou espírito humano.
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